quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Saudade

Estou sem sono. Nada de anormal, dado que é de mim que estamos a falar.
Estava farta de estar deitada na cama e dei uma voltinha pelo quarto. Olhei para a estante e encontrei os dois cadernos A4 que por duas vezes apanhei a distribuir na faculdade - entre o 2º semestre do meu primeiro ano e o 1º semestre do meu terceiro ano. São cadernos A4, agrafados, com 2 capas e 2 contracapas, pejadas de publicidade (a Bancos, a empresas, a medicamentos, sei lá). 
Encontrei lá dentro demasiadas memórias. Predicados de Lógica de Primeira Ordem, Modus Ponens e Modus Tolens, a lembrança do 20 nessa cadeira, os predicados e variáveis com os nomes mais estapafúrdios que só podiam ter vindo daquele professor. Uma folha com a distribuição de uma gama de endereços IP feita por um colega meu para acrescentar a um relatório de uma actividade laboratorial. Gráficos das matemáticas, com primitivas e integrais lá no meio. Os arranjos e permutações das aulas de probabilidades, aplicadas aos sinais, os gráficos com voltagens, os deltas de dirac. As matrizes de Hamming, as threads. Os laboratórios a enviar pings e fazer traceroutes e a analisar pacotes. O usar demasiadas vezes a palavra 'pacote' e ainda conseguir rir com isso de vez em quando. Discutir com um professor durante um laboratório porque eu teimava uma coisa e ele outra. Os exercícios de multimédia horrorosos mas que tinham que ser feitos para passar nos testes e fazer a cadeira com boa nota. O dia passado na faculdade, todos à volta de uma mesa a estudar para um teste ao final da tarde com triplas encaixadas em triplas para que toda a gente conseguisse uma tomada para ligar o portátil (ainda tenho uma foto disso). Os almoços à pressa. Receber as azeitonas que enfeitavam os pratos dos outros - porque ninguém gostava de azeitonas. Ter sempre companhia para um café. Aprender a jogar Fifa com comandos de playstation e conseguir defender golos embora não conseguisse marcar. O esforço enorme que fazia para ter as melhores notas possíveis porque já tinha delineado na minha mente o percurso que me encontro a percorrer neste momento. Todos os meus altos e baixos, que ainda hoje me acompanham. Todos aqueles dias sem vontade de sair da cama, a querer mandar tudo à fava, a apatia que às vezes me caracteriza. Toda aquela carga de trabalho que na altura me parecia enorme (e que agora me parece uma brincadeira). Todas as meias-horas passadas a lanchar e consultar o facebook à espera que o namorado saísse da faculdade dele para irmos dar uma voltinha antes de cada um seguir para casa.
Não estou descontente com o percurso que segui. Mas isso não me impede de ter um bocadinho de saudades do passado...

Hoje para variar coloquei um título de post em Português. Toda a gente sabe que não existe tradução para a Saudade...

2 comentários:

Vanessa disse...

Reconheço todas as matérias, acompanhadas infelizmente de pontadas de dor.

(bem, threads não está a ser assim tão mau...)

Catarina disse...

Threads são giras, principalmente quando não fazem o que é suposto. Mas se correres o programa outra vez já fazem. Ou não ^^