sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Opening my heart.

Há coisas que me andam por aqui entaladas na cabeça. E eu não tenho sono, história da minha vida. Achei que era boa ideia levantar-me da cama e vir escrever coisas aqui. Estes últimos meses dedicados à tese têm-me feito pensar demasiado na minha vida também.

Sinto-me ligeiramente revoltada com as pessoas mais próximas de mim. Porque ninguém compreende que às vezes pura e simplesmente não consigo ter energia, que as dificuldades em dormir não me deixam ter um horário dito "normal".

E porque toda a gente desvaloriza o que estou a fazer. Por ter pessoas na família num campo semelhante ao meu, todos acham que a experiência dos outros é a norma. Sinto que toda a gente desvaloriza a minha tese como sendo uma coisa banal, algo "que se faz na boa". Ora, eu ando desde Fevereiro/Março a bater com a cabeça nas paredes, a sentir que não faço nada de jeito, a ter ataques de choro constantes e dias em que me sinto tão em baixo que não consigo encontrar forças para me levantar da cama, a dormir mal, a perder horas em frente ao computador a olhar para as letrinhas pequeninas do código que escrevi.

Mas toda a gente acha que estou na "boa vida". Por estar só dedicada à tese e não estar a trabalhar, como as outras ditas pessoas fizeram.

Depois vem a questão do trabalho. Sinceramente não sei o que me assusta mais. A data da submissão da tese que está quase aí, a defesa da tese, ou o que vai acontecer quando isto tudo acabar. Mais uma vez, por causa das ditas pessoas em campos semelhantes, toda a gente assume que eu vou seguir tipo ovelhinha o mesmo percurso. Toda a gente assumiu que eu iria fazer a tese e trabalhar ao mesmo tempo. Não sei porquê. Anyways. Pesquisar por empregos na minha área em portugal é triste. Os resultados são todos os mesmos. Posso não ter experiência, mas já ouvi coisas suficientes para saber como as coisas funcionam: Quando começas és um escravo, não tens horários, não importa que o trabalho saia todo martelado e contrariando todas as boas normas que aprendeste na faculdade, mas desde que pareça bem e consigas lamber as botas aos superiores, está tudo bem. Trabalhas dia e noite por uma ninharia. A progressão natural das coisas é deixar aos poucos e poucos de trabalhar realmente na tua área e passares a mandar nos outros. De escravo a dono deles.
E toda a gente acha que tem que ser assim. Todos os "adultos" me assustam com o "quando entrares no mercado de trabalho é que vai ser". Toda a gente espera que eu siga este caminho, só porque os outros o fizeram.

Talvez seja muito e extremamente naive da minha parte, mas eu recuso-me a acreditar que as coisas sejam realmente assim em todo o lado. Recuso-me. Recuso-me a seguir o caminho que toda a gente espera de mim, só porque sim. Recuso-me a acreditar nesta realidade, não sem antes arriscar e experimentar outside the box. Porque a minha opinião em teoria dos conjuntos, é que esta realidade A é um conjunto contido num conjunto maior B.

Só que explorar o resto do conjunto B implica muita coisa. Nomeadamente ter de explicar a toda a gente com o mindset A que me recuso a acreditar nessa realidade. Ninguém compreende. E eu nem sequer tenho argumentos para mostrar. Só tenho fé que as coisas não são realmente assim, e estas coisas da fé, religiosa ou não, são sempre complicadas. Arre.

Se calhar alguém vai ler este texto e achar que sou uma burrinha, que podia tomar um caminho que já sei ser certo e deixar-me de riscos e aventuras. Mas e daí, tenho 23 anos, e acho que é nesta idade, que não tenho responsabilidades de maior, que posso arriscar e aventurar-me, e procurar o meu lugar nesta vida.

O difícil é fazer os outros compreender isso.

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