segunda-feira, 19 de setembro de 2016

I joke you not

Acho que já escrevi umas mil vezes aqui sobre o quão difícil é viver com fobia social. Sempre fui assim, desde pequenina.

Uma vez, não me lembro quantos anos tinha (talvez menos de 6?), o meu pai levou-me para um evento qualquer. Não era nada do outro mundo. Era uma coisa pequena, num espaço fechado e segudo, e havia imensas crianças mais ou menos da minha idade e comida nas mesas. Lembro-me que houve outra menina que esteve um bocado a falar comigo. Mas por algum motivo qualquer, fiquei sozinha - sem ninguém com quem falar/brincar.

Lembro-me perfeitamente do que senti na altura. Via imensos outros meninos que não conhecia e não tinha coragem de me chegar ao pé deles. Achava que não me iam ligar nenhuma. O meu pai estava a falar com outros adultos e não me podia dar atenção. Virei-me para a comida, mas o que quer que seja que tentei levar à boca não me agradou. Sentia-me extremamente sozinha e abandonada, numa situação aparentemente normal. E desatei a chorar.

Gostava de dizer que foi a única situação destas durante a minha infância, só que não. Acho que umas quantas vezes desatei a chorar em festas de anos de outras crianças - porque me sentia sozinha e pouco à vontade. Às tantas acho que a minha mãe deixou de me levar. Ou então deixaram de me convidar, whatever.

Fast Forward para alguns anos no futuro, já no 2º-3º ciclo. Apesar de lidar ligeiramente melhor com as pessoas - vantagem da terrinha, quando cheguei ao 5º ano já conhecia toda a gente -, continuei a ser aquilo que ainda sou hoje: extremamente calada e tímida, sem grandes capacidades de interacção e de responder adequadamente quando falavam comigo (a menos que fossem perguntas dos professores relacionadas com matéria. Aí até me safava).

No fundo, quem olhasse/olhe para mim via/vê uma mosquinha morta.

Posto isto, ao longo do ensino básico apanhei vários professores que lidavam comigo de um modo que, possivelmente, era o que achavam que me iria tornar mais espevitada, mas que na realidade tinha o efeito exactamente oposto. Lembro-me de 1 ou 2 docentes em particular. Falavam sempre comigo num tom de voz diferente, mais alto, quase agressivo, e faziam-me sentir péssima quando cometia algum erro. Lembro-me de uma vez uma professora resolver pregar-me uma partida e acusar-me de ter sujado não sei o quê (não era uma aula de EVT, mas estávamos a fazer um trabalho manual qualquer), só para me ver super atrapalhada a tentar defender-me.

Não vou dizer que sou como sou agora devido apenas a esses docentes, mas suponho que fizeram parte na moldagem da pessoa em que me tornei.

Aos vinte e quatro anos pago contas e renda, desconto para a segurança social, trato de uma casa. E tento aprender a relacionar-me com os outros à minha volta.



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