domingo, 13 de setembro de 2009

Velhice

"- Um dia vou ler-te algumas páginas de um grande escritor latino. Chamava-se Séneca. No seu breve ensaio sobre a velhice, contou coisas que eram verdade há dois mil anos, tal como hoje. A pior doença, para a qual não há remédios, é a velhice, que traz consigo a solidão. Tu és jovem e pensas que és dona do mundo. E é efectivamente assim. Mas depressa chega o tempo em que os anos correm rápidos como a água de um rio. Descobres que estás velhas e dás conta de que estás cada vez mais só. Então tens necessidade de sentir alguém perto de ti. Eu tinha a minha mãe que, até ao fim, esteve perfeitamente lúcida. Sentíamo-nos bem juntos. Eu lia-lhe o jornal e comentávamos as coisas do mundo. Agora resta-me a Piccarda. É pouca coisa, eu sei. Não passa de uma tartaruga. Porém, quando sai da letargia do Inverno, à medida que vai recuperando as forças, vem procurar-me aqui mesmo, ao fundo da escada. Sabe que estou à espera dela. Ofereço-lhe uma folha de alface e, naquele momento, somos ambos felizes."

in Baunilha e Chocolate de Sveva Casati Modignani

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Já perdi a conta o número de vezes que li, reli e voltei a reler este livro. Da última vez, saltou-me este parágrafo para a frente.

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