É sexta feira e hoje trabalho a partir de casa dos meus pais. O covid alterou-me a vida. Tenho saudades de levantar cedo, ir direitinha tomar um duche para acordar, sair de casa com os phones nos ouvidos, apanhar transportes, chegar ao escritório e tirar um café. 

Agora o duche passou para o fim da tarde, o café vem da minha máquina, às vezes acordo 5 minutos antes da primeira reunião da manhã e não tenho vergonha nisso. Passei a almoçar todos os dias com o meu namorado, e às vezes até vejo um bocadinho de televisão antes de voltar ao trabalho. 

Ainda não conheço o meu escritório novo. Aquele onde, se não fosse o covid, eu estaria agora, sentada à secretária, a trabalhar, ou a procrastinar um bocadinho a escrever aqui no blog.

As casas dos nossos pais passaram a ser também um espaço de trabalho, em vez de virmos cá só para passar o fim de semana.

Continuo a detestar calls devido à minha fobia social, principalmente se forem one-on-ones, e cada vez que carrego no botão de "Leave call" do Google Meet depois de uma dessas, tenho as pernas e o rabo todos transpirados só do nervosismo de ter de falar com outra pessoa.

Gosto da minha equipa, rio-me sempre bastante nas calls.

Continuo a ter medo da responsabilidade, de fazer apresentações. Continuo a gostar de escrever testes, mas custa-me sempre começar. Descobri que tenho mais atenção ao pormenor e sou mais perfeccionista do que o que pensava. 

É sexta feira e apesar de gostar muito do que faço, não fazer nenhum é sempre muito melhor e portanto mal posso esperar que comece o fim de semana. 

É sexta feira e este fim de semana vai ser passado em casa dos meus pais, onde já não venho tanto desde que a pandemia começou, porque ainda não tenho carro e não me sinto preparada para me meter num autocarro e fazer a viagem, pelo que estou sempre dependente de boleia.

É sexta feira e neste momento não estou preocupada com sintomas aleatórios do meu corpo, nem com o covid, o trabalho está a correr bem, e daqui a nada começa o fim de semana. Celebremos um momento positivo aqui no blog, porque é bem possível que daqui a umas horas a minha cabeça arranje um motivo qualquer para começar a deprimir.