terça-feira, 17 de março de 2020

Hipocondria, ansiedade, e os dias em que vivemos

Por um lado não me apetecia escrever este post. Para onde quer que me vire aparece uma notícia alarmante sobre o covid-19, ou alguém a pedir pela 1125234234ª vez para que as pessoas lavem as mãos, pratiquem isolamento social, yada yada yada. Não queria juntar-me ao grupo. Mas como este blog acaba por ser uma espécie de registo da minha vida, achei que seria boa ideia deixar aqui uma entrada sobre a situação actual que estou a viver, o que estou a sentir, e os meus coping mechanisms.

Para a Catarina do futuro, caso não ela se lembre:
"O novo coronavírus, designado SARS-CoV-2, foi identificado pela primeira vez em dezembro de 2019 na China, na cidade de Wuhan. Este novo agente nunca tinha sido identificado anteriormente em seres humanos. A fonte da infeção é ainda desconhecida." (Site da DGS)

O vírus chegou a Portugal no fim de Fevereiro. No momento em que escrevo isto há 331 casos confirmados, 3 recuperados e 1 óbito. O país está praticamente parado. Maior parte da população - eu incluída - está em isolamento voluntário para tentar parar o contágio.

O que é que tenho estado a sentir desde que toda esta situação começou?

Os alertas sobre o coronavirus e a posterior chegada cá ao país coincidiram com a altura em que fui rejeitada de duas empresas (depois de quase duas semanas em ansiedade à espera de notícias) e tive de voltar a procurar, analisar e enviar candidaturas a anúncios de emprego (e voltar à rotina de enviar emails, ter chamadas introdutórias, marcar entrevistas, etc etc).

Quem lê aqui o blog sabe que eu sou bastante ansiosa e também um bocado hipocondríaca, portanto este conjunto de situações transformou-me numa autêntica bomba relógio:

- Tive ataques de ansiedade (ou de pânico, não sei bem). De vez em quando, às vezes sem sequer estar a pensar nos problemas em si, sentia uma aflição enorme (tipo uma vontade enorme de chorar, mas sem conseguir), não conseguia respirar como deve ser, e dava-me um calor enorme. Tudo isto passava em cerca de 1 ou 2 minutos. Não tinha mais que 1 ou 2 episódios destes por dia, mas foram regulares durante alguns dias. Entretanto já passaram

- Tive um super-mega-ataque de choro. Isto era algo que não me acontecia há anos. Choramingar quando estou mais stressada sim, acontece com alguma frequência, mas ataque de choro incontrolável? Já não tinha um desde os tempos de faculdade. Este calhou num dia em que estava particularmente stressada com um dos processos de recrutamento, e confesso que foi bastante libertador!

- Praticamente todos os sintomas físicos de ansiedade que alguma vez senti resolveram manifestar-se ao mesmo tempo. Dores de cabeça? Check. Dores de estômago? Check. Sintomas de refluxo? Check. Eczema? Check. Diarreia? Check. (Pelos vistos existe uma ligação entre o cérebro e o sistema digestivo, não admira que maior parte dos sintomas sejam daí)

- Voltei a virar os meus horários de sono do avesso (não que isso seja difícil, honestamente)

O que estou a fazer para me ajudar a lidar com toda a situação

- Ficar em casa. Às vezes é preciso sair para ir ao supermercado e afins (o que me deixa altamente ansiosa e a desejar ter um daqueles fatos de bio-protecção), mas regra geral (principalmente desde que começaram a fechar escolas e afins) tenho ficado em casa, e isso ajuda-me a sentir mais calma e segura.

- Só ver as notícias uma vez por dia. Normalmente pouco depois de acordar (sendo que só tenho acordado à hora de almoço), faço a ronda ao Observador para ver os números e os avisos. Tento evitar ao máximo abrir outros sites de notícias, e se estiver a fazer zapping passo o mais rápido possível pelos canais de notícias. Não vale a pena passar o dia a procurar actualizações, só serve para me causar pânico.

- Evitar as redes sociais. Tenho visto o Instagram muito menos do que o costume, e o Facebook ainda menos (e cada vez que caio no erro de abrir o feed arrependo-me). O instagram tem toda a gente a partilhar o "lavem as mãos" e "eu fico em casa" e afins. Não preciso disso. O facebook tem toda a gente a partilhar notícias de veracidade duvidosa, orações, desabafos, e o raio que o parta relacionado com o vírus. Também não preciso disso na minha vida.

- Encontrar (e fazer uso) de estratégias para me distrair de toda a situação. Como ainda não estou a trabalhar, tenho demasiado tempo livre para me distrair, portanto tenho tentado concentrar-me em coisas que me prendam a atenção e me distraiam do mundo. Até agora, o que tem resultado para mim:
  • Ler comics online - diga-se, fora do instagram e assim. Nomeadamente, eu costumo ler o Questionable Content, que descobri há uns anos. Quando preciso de me distrair, vou para o comic numero 1, e vou seguindo a história (às vezes ao longo de vários dias). Quando chego ao mais actual, volto ao início, se necessário.
  • Trash TV - nomeadamente, TLC, maioritariamente o 90-day fiancée e o 600-lb life. É tão mau e estupidificante, que se torna perfeito para distrair a cabeça
  • Documentários - um bocadinho o oposto da trash TV, mas também me tenho entretido a ver programas aleatórios nos National Geographics e afins.
  • Fazer crochet - há uns tempos comecei a fazer uma manta, e às vezes quando preciso de acalmar pego na lã e na agulha e adiciono mais uma ou duas filas.
  • Escrever e/ou rabiscar - tenho um caderno onde vou escrevendo desabafos. Às vezes nem sequer tenho coragem de desabafar, portanto também o uso para desenhar ou rabiscar aleatoriamente

E é isto. Depois de uns dias agitados, estou finalmente um bocadinho mais calma. Tudo há-de passar. 

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