Há cerca de 3 anos atrás, em Outubro de 2017, eu e o meu namorado fomos passar férias a Londres pela segunda vez.
Foi uma coisa planeada assim em cima do joelho: Algures em Setembro reparei que o 5 de Outubro calhava a uma quinta feira, e sugeri ao meu namorado tirarmos uns dias e irmos passear a qualquer lado. Não tínhamos grandes ideias de sítios para ir, e quando abrimos o skyscanner para ver que sítios tinham as tarifas mais baratas para aquela altura, todos os sítios novos a que queríamos ir estavam estupidamente caros. Londres estava relativamente acessível, pelo que me virei para o meu namorado e perguntei-lhe "E se fossemos a Londres outra vez?". E fomos.
Londres foi a primeira viagem que fizemos juntos, em 2015. Eu ainda estava a estudar e poupei todos os trocos que os meus pais me davam para esta viagem. Vimos o máximos de pontos turísticos que conseguimos com o dinheiro que tínhamos, e tentámos gastar o mínimo possível. Voltei dessa viagem apaixonada por Londres (e com uma bruta constipação), e com vontade de voltar o mais rapidamente possível.
Depois disso tanto eu como ele voltámos a Londres várias vezes. Ele para conferências, eu em trabalho. Mas nunca para férias. Nunca com tempo. Até Outubro de 2017.
Lembro-me sempre dessa viagem como uma das melhores de sempre. Já conhecíamos minimamente bem a cidade, por isso não havia aquela necessidade de levantar cedo para ir explorar, visitar o máximo possível de coisas no mínimo de tempo possível até os pés implorarem por misericórdia. O hotel tinha um pequeno almoço espectacular. Já não estava dependente do dinheiro dos meus pais, por isso tive um bocadinho mais de liberdade para fazer compras e explorar restaurantes. Apanhámos bom tempo. Descobrimos um restaurante chinês mesmo fixe em Chinatown, as pizzas de sourdough do Franco Manca, e a barraquinha do Borough Market que vende bolachas gigantes com pepitas de chocolate. Fizemos grandes caminhadas. E no geral, relaxámos bastante - acho que foi a última vez que relaxei a sério durante uma viagem, raisparta as ansiedades.
Desde aí que implementámos a viagem anual a Londres, mas infelizmente nunca mais voltámos a ter aquela experiência relaxante de 2017. Em Dezembro de 2018 levámos os meus cunhados e acabámos por fazer bastante turismo (para além de tentar ver todos os mercadinhos de natal e andar quilómetros até ficar com os pés em papa), e em 2019 estava um frio desgraçado, o meu namorado estava com uma mega constipação, e eu tinha acabado de deixar o meu emprego, pelo que não consegui de todo relaxar.
É. No início de 2020 tínhamos planos de voltar a Londres outra vez em Outubro. Tínhamos planos de voltar a Nova Iorque e fazer o mesmo tipo de viagem - deixar os pontos turísticos mais de lado, e ver coisas diferentes. Na altura ainda estava desempregada, com processos de recrutamento a arrastarem-se, e sabia que não podia fazer planos para grandes viagens porque convinha poupar dinheiro para compensar os meses de desemprego.
E depois vocês já sabem. Meteu-se uma pandemia.
A mim não me custa muito estar fechada em casa, sinceramente. Custa-me o estar sempre preocupada com os meus pais lá na terra, custa-me estar sempre preocupada se estou a mexer com as mãos na cara sem as ter desinfectado, custa-me a hipocondria. Mas estar sossegada em casa não me custa muito. Nem sequer me custa assim tanto trabalhar de casa (algo que sempre detestei).
Mas às vezes encontro fotos. Ou vejo posts de outros blogs. Ou vejo um filme ou uma série qualquer. E aí custa-me, custa-me mesmo muito, não poder viajar. Custa-me não poder revisitar os sítios que mais gosto. Custa-me muito não saber quando é que vou poder voltar a viajar. Custa-me saber que todos estes sítios que quero visitar/revisitar vão ficar permanentemente alterados com esta pandemia. Custa-me saber que eu própria vou ficar permanentemente alterada com esta pandemia, e acho que nunca mais vou sair de casa descansada.
Neste momento a melhor estratégia é viver um dia de cada vez. Mas porra, às vezes custa mesmo.